
Iniciativa conjunta reforça os laços culturais, gastronómicos e turísticos entre os territórios fronteiriços
A vila espanhola de Fermoselle acolheu ontem a sessão de apresentação das Jornadas “Atravessando a Raia / Cruzando La Raya 2025”, um projeto de cooperação transfronteiriça entre Portugal e Espanha, que une as regiões do Centro de Portugal, Porto e Norte e Castela e Leão.
A iniciativa, que decorrerá entre 1 de novembro e 8 de dezembro, convida os visitantes a descobrir os sabores, tradições e paisagens dos territórios da raia, através de menus típicos elaborados por restaurantes dos distritos de Guarda e Bragança, em Portugal, e das províncias de Salamanca e Zamora, em Espanha, acompanhados de vinhos das denominações de origem Beira Interior, Trás-os-Montes, Arribes e Douro.
A cerimónia decorreu no Salão Nobre do Ayuntamiento de Fermoselle, com as intervenções de Rui Ventura, presidente da Turismo Centro de Portugal, Luís Pedro Martins, presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Gonzalo Santonja, conselheiro de Cultura, Turismo e Desporto da Junta de Castela e Leão, e José Manuel Pilo, presidente do município de Fermoselle.
Programa combina gastronomia, cultura e turismo de natureza
Esta é a segunda edição das Jornadas, que tiveram o seu arranque em 2024. O programa para 2025 combina gastronomia, cultura e turismo de natureza, valorizando desta forma o património material e imaterial dos territórios raianos.
Um dos destaques das atividades é a Exposição “Transumância e Artesanato”, patente em Aldeadávila de la Ribera (Salamanca), que incluirá exemplos do artesanato tradicional das quatro regiões. Outro momento alto da programação será a iniciativa “Cruzando a Raia, Rotas da Fronteira”, que consiste em passeios transfronteiriços de moto pelos territórios da raia, dos dois lados da fronteira.
Do ponto de vista cultural, destacam-se um debate sobre a evolução histórica e cultural da raia ibérica, no dia 22 de novembro, em Alcañices, e um concerto com o Quinteto da Orquestra Sinfónica de Castela e Leão, no dia 29 de novembro, na Catedral de Miranda do Douro – dois momentos de grande relevância no programa desta edição.
Promovidas em parceria pela Junta de Castela e Leão, Turismo Centro de Portugal e Turismo do Porto e Norte, com o apoio dos municípios raianos, estas jornadas reafirmam a raia ibérica como um destino turístico internacional comum, onde a cultura, a gastronomia e a amizade entre povos não conhecem fronteiras.
Rui Ventura: “A raia ibérica é um território com alma”
Na sua intervenção na cerimónia, Rui Ventura destacou a importância destas jornadas como exemplo de turismo sustentável e cooperativo, que valoriza as comunidades locais e a identidade partilhada entre os dois países. “Atravessar a raia é muito mais do que cruzar uma fronteira. É redescobrir o que temos em comum: as tradições, os produtos, as paisagens e as pessoas. Estas jornadas mostram o melhor do turismo sustentável, aquele que valoriza os produtos locais, reforça a economia das pequenas comunidades e preserva a autenticidade dos territórios”, afirmou o presidente da Turismo Centro de Portugal.
“O Centro de Portugal sente este projeto como seu. A raia é um tesouro para descobrir: das aldeias históricas ao património, da gastronomia à hospitalidade que nos emociona. Quando trabalhamos juntos, Portugal e Espanha transformam as fronteiras em horizontes partilhados. Cada vez que atravessamos a raia, não mudamos de país, reencontramos uma parte de nós mesmos. A fronteira é, afinal, uma ponte”, concluiu.
Luís Pedro Martins: “O interior é uma oportunidade e o turismo é a sua voz”
O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, salientou o papel estratégico do turismo na valorização dos territórios de baixa densidade e na criação de valor económico e social. “O turismo é hoje a maior indústria do mundo, responsável por 11% do PIB global e 319 milhões de empregos. Mas, mais do que números, o que importa é o impacto que deixamos nas comunidades. Queremos medir o sucesso pelo que criamos: inclusão, sustentabilidade, inovação e participação das pessoas que vivem nestes territórios”, afirmou.
O dirigente destacou ainda a importância da cooperação ibérica e da parceria institucional entre as três entidades. “Este projeto prova que o interior não é uma fatalidade, é uma oportunidade. Aqui encontramos o luxo das experiências autênticas e o valor das pessoas que acolhem com alma. O turismo é o setor que melhor elimina fronteiras. Esta cooperação entre as equipas do Turismo do Porto e Norte, do Turismo Centro de Portugal e de Castela e Leão é natural, estratégica e construída com confiança”, elogiou.
Gonzalo Santonja: “As fronteiras são as cicatrizes da história e a cultura é o que as cura”
O conselheiro de Cultura, Turismo e Desporto da Junta de Castela e Leão, Gonzalo Santonja, defendeu a raia como “um espaço de fraternidade e não de separação”. “As fronteiras são as cicatrizes da história. Sempre que há uma fronteira, houve uma guerra. Mas o mundo da cultura, da língua, do património, da gastronomia e do vinho são vasos comunicantes que passam por debaixo dessas fronteiras. As pessoas comuns, de um e outro lado, não procuram o conflito, procuram o entendimento”, afirmou. “As nossas diferenças enriquecem-nos e as nossas semelhanças unem-nos. A raia é isso mesmo: uma escola de convivência e de partilha”, defendeu.
O conselheiro evocou ainda o poeta Rafael Alberti, citando um verso que dedicou ao espírito da raia: “Eu nunca serei de pedra. Chorarei quando precisar de chorar. Rirei quando precisar de rir. Gritarei quando precisar de gritar”. “Nós, que não somos de pedra, precisamos de abraçar-nos. Estas jornadas são um abraço entre dois povos irmãos”, concluiu Gonzalo Santonja.
O anfitrião, José Manuel Pilo, presidente do município de Fermoselle, destacou a importância deste lugar enquanto símbolo histórico da ligação entre os dois países. “Estamos na morada da Rainha D. Urraca de Portugal, filha de um rei e mãe de outro, que aqui encontrou refúgio e liberdade. Este castelo é o miradouro perfeito para contemplar a raia e compreender que o Douro já não nos separa – une-nos”, afirmou. “Promover o nosso território é promover a nossa vida. A união faz a força, e esta cooperação é o caminho certo”, concluiu.







