No próximo dia 22, pelas 16 horas, o Ecomuseu de Barroso assinala os 80 anos do padre Fontes com a abertura da exposição permanente Alma Mater. Trata-se de uma visão biográfica que acompanha o trajeto de vida do mais importante e estimado barrosão do nosso tempo. O projeto tem como objetivo dar a conhecer a figura ímpar de António Lourenço Fontes. A vertente humana e religiosa, a veia jornalística e literária, bem como o seu trabalho antropológico e etnográfico entrecruza-se de forma subtil, desvendado um homem que é, essencialmente, um provocador e um agitador de consciências.
Alma Mater procura desconstruir a imagem esotérica, muitas vezes relacionada com o padre Fontes, revelando, no discurso expositivo, aspetos da sua vida até hoje praticamente desconhecidos e/ou desvalorizados pelo público em geral. Partindo deste pressuposto, a exposição pretende demonstrar a amplitude e, não raras vezes, a originalidade e o vanguardismo quer do seu pensamento, quer das suas ações. Com efeito, a natureza profética de muitas das suas ideias encontra, nos dias de hoje, uma ressonância inegável. Mais do que propor uma exposição ilustrativa, Alma Mater pretende transmitir às novas gerações de Barroso o valor intrínseco do seu território, uma espécie de contaminação identitária que perpetue o Amor, o Respeito e o sentido de Pertença pela cultura galaico-barrosã.
Etnografia transmontana – Vol. III
Paralelamente à inauguração da exposição Alma Mater, é lançada publicamente a terceira edição da Etnografia Transmontana da autoria do padre Fontes. Uma obra há muito desejada, dando seguimento ao sucesso das anteriores. Recorde-que a primeira – Crenças e Tradições de Barroso – lançada em 1974 e recomendada pelo Plano Nacional de Leitura, «regista uma importante parte do património oral da região. O Barroso é ainda um dos lugares no qual podemos entregar o tempo à magia da memória do passado e às manifestações religiosas e profanas que continuam cimentadas no presente. Neste primeiro volume, o percurso etnográfico revolve o fio à meada das crenças e tradições, perdidas e usadas, passando pelas sombras do diabo, mezinhas e bruxarias, definhando o aspeto lúdico do dia-a-dia até à santidade dos dias e suas festas, posfaciando na sabedoria popular cromatizada através dos ditos do povo». A segunda – O Comunitarismo de Barroso – lançada em 1992, «introduz-nos nos aspetos visíveis de uma sociedade, a do Barroso, equilibrada por um sistema de parentesco e, consequentemente, de reciprocidade, que dissimulam o carisma particular de um povo face à vida quotidiana. Os primórdios da aldeia e a sua formação, o coletivismo de um modo de vida remotamente dependente da terra e a reciprocidade de serviços que daí se desprendem, resultam num homem de feições culturais específicas que se não lhe podem dissociar: o homem barrosão é um artista e lavrador, a família é a aldeia, o gado é respeitado, a honra é a matriz desta gente que, perto ou longe do mundo, adquiriu uma postura cultural, não imposta, mas de acordo com as leis da natureza que lhe foi extraviada pelas malhas da modernidade».